quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O Candomblé e o poder feminino


Na África é o homem quem detém o poder religioso. Para explicar essa troca de poder religioso entre os sexos torna-se importante reconstruir o cotidiano da mulher negra. Ainda na África, Pierre Verger, ao remontar à importância da feira, especialmente para os iorubás, mostrava a presença das mulheres como grandes negociantes, sendo que no mercado, comparadas aos homens, elas são maioria. A atividade de troca que ocorre nas feiras parece ser de importância inconteste para as mulheres iorubás, pois elas se submetem à separação de suas famílias: quando jovens, deixam seus lares para ir comerciar em mercados distantes; quando idosas, mandam suas filhas para as feiras importantes e permanecem próximo a suas casas com seus tabuleiros, ou, então, abrem pequenas vendas. Evidencia-se que essas trocas realizadas nas feiras tanto podem ser para a subsistência como para alguma acumulação. Neste último caso, é importante sublinhar, a mulher não está trabalhando para o seu cônjuge. Ela compra a colheita do marido, a revende na feira e fica com o lucro. Nessa perspectiva, pode-se avaliar a autonomia da mulher iorubá: deixa a própria família, se embrenha em caminhos distantes para chegar às feiras; compra a produção de seu próprio marido, revende e permanece com o lucro; é, enfim, uma ótima comerciante. Mas a sua importância parece ser mais abrangente à medida que se visualiza a feira não somente como a complementaridade econômica, ela é o locus privilegiado de outras trocas além de bens materiais. Nas feiras trocam-se também bens simbólicos: notícias, modas, receitas, músicas, danças. Estreitam-se relações sociais. Ali são realizadas alianças importantes; ali também ocorrem os namoros, acertam-se casamentos.
Percebe-se, assim, que o papel da mulher iorubá vai além do desempenhado nas atividades econômicas. Ela é mediadora não só das trocas de bens econômicos, como também das de bens simbólicos. O lugar social ocupado pela mulher iorubá, sem sombra de dúvidas, possibilita-lhe o exercício de um poder fundamental para a vida africana.
Nesse momento, movo o meu foco de análise para a família. É Verger quem destaca o papel da mulher, ao informar que
(...) Na organização da família iorubá, que é polígama, contrariamente ao
conceito que pessoas mal informadas fazem, as mulheres usufruem uma maior
liberdade que a que se dá nas uniões monogâmicas. Na grande casa familiar do
esposo, elas são aceitas como progenitoras dos filhos, destinadas a perpetuar a
linhagem familiar do marido. Mas elas nunca aí são totalmente integradas,
deixando-lhes esse fato uma certa independência. Após o casamento, elas
continuam a praticar o culto de suas famílias de origem, embora seus filhos
sejam consagrados ao deus do cônjuge (Verger, 1986: 275)1.
Apesar de os dados contidos na afirmação de Verger atestarem a patrilinearidade em relação ao poder religioso (os filhos são consagrados ao deus do cônjuge), a mulher, ao praticar o culto de sua família de origem, está vinculada ao deus paterno; portanto, guarda uma certa autonomia em relação a seu marido. Se, para algumas interpretações, o casamento de um homem com várias mulheres indica a submissão feminina, pode-se interpretar esse fato preliminarmente como Verger, ao mostrar que a dominação masculina dilui-se entre as várias mulheres. Essa versão, aliada ao dado das "mulheres no mercado", das "ótimas comerciantes" que conseguem amealhar fortunas consideráveis - o que as torna, muitas vezes, mais ricas que seus próprios maridos (mesmo porque é da competência masculina a subsistência das mulheres e filhos) - faz com que a versão vergeriana sobre a poliginia e a autonomia feminina ganhe muito mais sentido.
Ainda na África, outras situações vividas pela mulher merecem destaque: "(...) Na organização dos reinos fons e nagô-iorubá, as mulheres desempenharam um papel ativo, eram elas quem administravam o palácio real, assumindo os postos de comando mais importantes, além de fiscalizarem o funcionamento do Estado" (Silveira, 2000: 88)2.
Destaca-se, também, que os daomeanos eram guerreiros terríveis, mas, sobretudo, que mantinham uma tropa feminina de elite que amedrontava de longe o inimigo.
No século XVIII, as feiras e mercados iorubás isolados se articulavam em uma grande rede, ao mesmo tempo em que ocorria o processo de urbanização das cidades. Data dessa mesma época a fundação de duas associações femininas importantes: as sociedades Ialodê e Gueledé.
A Ialodê era uma associação feminina cujo nome significa "senhora encarregada dos negócios públicos". Sua dirigente tivera lugar no conselho supremo dos chefes urbanos e era considerada uma alta funcionária do Estado, responsável pelas questões femininas, representando, especialmente, os interesses das comerciantes. Enquanto a Ialodê se encarregava da troca de bens materiais, a sociedade Gueledé era uma associação mais
próxima da troca de bens simbólicos. Sua visibilidade advinha dos rituais de propiciação à fecundidade, à fertilidade; aspectos importantes do poder especificamente feminino.
É interessante notar que essas duas associações femininas estão diretamente referidas às atividades desenvolvidas pelas mulheres nas feiras. Mais precisamente à mulher do mercado, a mediadora da troca, tanto de bens materiais quanto de bens simbólicos que vieram dar origem respectivamente a Ialodê e a Gueledé. Percebe-se, assim, que a mulher iorubá além de deter o saber de usar a autonomia que a própria família poligínica lhe possibilitou, tornou-se a mediadora de bens materiais e simbólicos; e foi, ainda no século
XVIII, fundadora de associações femininas importantes. Essa volta ao passado africano não tem a pretensão de filiar este estudo às correntes afro centristas.
Esse retorno possibilita simplesmente alcançar uma profundidade histórica à medida que a África é percebida como fonte. Na realidade, o foco de minha análise centra-se na diáspora. Movimento esse pensado, anteriormente, como de mão única, uma vez que o significado da escravidão que emerge, no primeiro momento, era o de uma viagem sem volta, com o massacre, com o desmonte da diversidade cultural africana que aportava no Brasil com seus agentes.
(Este texto é parte integrante do artigo "O candomblé e o poder feminino", de Teresinha Bernardo - Publicado na revista "Estudos da religião" em 2005)
Dinah


Extraido do facebook:  https://www.facebook.com/IleIboCasaLugarDeAdoracao/posts/394239154070943:0

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Os Orixás e os Ogans

OS ORIXÁS

Cada invocação fetichista tem o seu Orixá, que é a representação simbólica do santo. O africano já trazia a seita religiosa de sua terra; aqui era obrigado, por lei, a adotar uma religião católica. Habituado naquela e obrigado por esta, ficou com duas crenças. Encontrou no Brasil a superstição, consequência fatal aos povos e a sua infância. Fácil foi aceitar para cada moléstia ou ato da vida um santo protetor, como:
·         São Brás – Casos de moléstia e garganta
·         São Roque – Feridas e chagas
·         Santa Bárbara – Raios e tempestades
·         São Francisco Xavier – Contra a peste
·         São Marcos – Contra bicheiras de animais
·         São Lourenço – Contra queimaduras
·         São Gonçalo e Santo Antônio – Para o casamento

Dessa arte, não teve o africano dificuldades em encontrar uma semelhança entre as divindades do culto católico e os ídolos do seu fetichismo, conforme o poder milagroso de cada um. Assim é que o:

·         São Sebastião – Oxóssi
·         São Jorge – Ogum
·         São Jerônimo – Xangó Baru
·         São Francisco – Loco ou Gameleira velha, ou figueira velha
·         São Caetano – Gameleira nova




O IFÁ

É a divindade dona da adivinhação, soberano pai de Iansã, representada que apresenta somente quatro olhos ou sinais de orifícios. Para olhar com o Ifá, encerram-se os frutos nas mãos, que se sacodem de um lado para outro. Á proporção que os Ifás caem, um a um, o Oluô vai predizendo o que há de acontecer. Os instrumentos do Babalaô são: obi, orogbô, okutás e o opelê-Ifa. Ás vezes contém dezesseis moedas de prata. ÁS mulheres só é permitido olhar com búzios.

A TROCA DE CABEÇA

Há diversos processos para diversos objetivos, um deles é fazer um despacho, constante de um pedaço de madrasto novo, representando uma mortalha, com o propósito de transmitir moléstia ou a infelicidade de uma pessoa á outra, e esta será atingida ao pisar ou tocar no Ebó, atirado a um lugar conveniente. Quando, com a troca de cabeça, não se pretende fazer o mal a outro, o ebó é colocado no cemitério. Se o portador, por ignorância ou maldade, não o deixar no lugar designado, e sim em outro, quem tocá-lo será atingido. Conheça ainda outros processos: toma-se um animal, preparam com o Ebó e soltam ou amarram em qualquer parte. Quem apanhar terá de ficar com a moléstia ou com desventuras. Um Babashalé ou Yalashé tem atribuições para trocar uma cabeça quando seu tempo de santo e obrigações está em dia, se o ato a cometer for justificado favorável.



O OGAM



Conta a lenda: Uma das lendas diz que o primeiro Alagbe foi Exú.
Ele tocava e cantava para os outros Orixás poderem dançar, durante as suas reuniões. Entretanto, o toque de Exu era bem alto e estridente, impossibilitando os outros Orixás de conversarem. Um dia, eles se irritaram com Exú e o mandaram parar de tocar.
Algum tempo depois começaram a sentir falta dos ritmos de Exú para dançar. As reuniões estavam sem graça e desanimada. A festa de Exú estava fazendo muita falta. Foram então a procura de Exú para que ele voltasse a tocar seus ritmos maravilhosos. Entretanto, Exú sendo muito orgulhoso recusou-se, mas, compadecido, disse que ensinaria os ritmos e toques ao primeiro homem que encontrasse pelo seu caminho.
O primeiro homem que Exú encontrou chamava-se Ogã, e como prometido Exú ensinou todos os ritmos dos demais Orixás a ele.

É uma autoridade honorária do Candomblé. Cada Orixá tem sua representação em diversos indivíduos, que não tomando parte nos preceitos da seita, todavia, têm direito a certas regalias. Ao penetrar na casa de Candomblé, os atabaques dão sinal de cortejo – dobram – conforme o Orixá a que ele é consagrado, todos prestam reverências, ele tem o direito de transpor a porta de cabeça erguida sem autorização especial, e lhe reservam os melhores lugares, nas ocasiões feitas. As filhas de santo da Casa são consideradas como suas filhas e, ao verem o Ogam, curvam os joelhos e lhe pende a benção, em qualquer lugar.
O Ogam toma duas posses: a de iniciação e a de confirmação. Na primeira, o individuo rodeado de muita gente, é apresentado pelo Orixá do Babalorixá aos quatro quantos da casa e á porta do quarto do Orixá, logo depois aos Ogans que estão tocando, daí então, o Orixá senta o futuro Ogam em sua cadeira previamente arrumada, onde o  mesmo curva-se  prestando homenagens, e logo após, todos de casa pertencentes á seita, deverão ir cumprimentar o futuro Ogam. A outra fase do Ogam, apresentando a todos os presentes, dando o nome de Orixá que governo o Ori de sua ordenança. A festa toma caráter suntuoso, pois se prolonga por muitas coisas. O resguardo do Ogam consiste no mesmo dos filhos de santo da casa, durante dezesseis dias.
Os africanos aqui introduzidos, pertenciam a diversas tribos distintas, como: Cabinda, Benin, Gêgê, savaru, maqui, mendósi, catopóri, daxá, angola, Moçambique, tapa, filanin, Egbás, yoruba, efon, Keto, igbe, congo, aussá, Ijexá, mina, Calabar, e gimum, que era a tribo predileta ou preferida dos olhadores.
As diferenças especiais: as mais amorosas, quanto a função de maternidade, foram as mulheres Gêgês, Ijexá e Egbás, que também se distinguiram pela correção escultural, não tinham o rosto recortado de linhas e costumavam pintar a pálpebra inferior, com uma tinta azul, por faceirice ou enfeite. Entre as mais peritas na arte da culinária destacam-se: Angola, Gêgê, e Congo; as boas amas de leite foram Aussá e Ijexá, consideradas de índole mais branda. As tribos Gêgês, Congo, Angola, e Mina distinguiram pela sensualidade, pelo porte senhoril e maneiras delicadas e insinuantes, por isso chegaram a confundir-se com as crioulas elegantes.
As Gêgês e Angolas, especialmente, imolavam o seu amor aos oriundos do país e desprezavam os parceiros; mas, se forem casadas na terra natal e que aqui encontrassem os maridos, davam-lhe toda a preferência.  A mulher africana, por força da seita, dava o tratamento do SENHOR ao marido.  Os Yorubás eram até de ordinário preferidos nas posições legais. Os que mais se destacaram e adaptaram á nossa civilização foram os Angolas, que deu tipo engraçado, e o introdutor da CAPOEIRA. O Ijexá foi o mais inteligente de todos, de melhor índole, mais valente, e mais trabalhador. Os Gêgês assimilaram um pouco dos costumes locais, mas, não em tudo. Eram muito dados ao sigilo do costume e as danças e um tanto fracos para o trabalho da lavoura.
Em geral, falavam os africanos diversos dialetos, que pareciam derivados de grupos de línguas diferentes, sendo a língua YORUBÁ a mais importante, pela extensão do seu domínio, no continente negro. Os nomes das tribos que foram citadas indicam, apenas, localidades de nascimento ou de tribo onde a linguagem primitiva sofreu alterações. A mistura de tantas tribos diversas na mesma cidade tornou isso uma Babel africana, de modo que se tornava comum, aos já aclimatados, no meio da conversão mal entretida, o emprego de termos da língua portuguesa ao fim de se fazerem entender. O africano foi um grande elemento ou o maior fator de prosperidade econômica do país: era o braço ativo e nada se perdia do que ele pudesse produzir. O seu trabalho incessante, não raro, sob o rigor dos açoites, tornou-se a fonte da fortuna pública e particular.


“A raça negra não só tem modificado o caráter nacional, mas, tem até influído nas instituições, nas letras, no comércio, e nas ciências do país. Vivendo conosco no tempo e na ação, os escravos dominaram ás vezes de tão alto que eles devemos ensino e exemplos, ‘Costumes Africanos no Brasil’ Manoel Quirino – Civilização Brasileira.”  



sexta-feira, 28 de novembro de 2014

COMIDA DE CABOCLO




MATERIAL NECESSÁRIO:

- Alface
- Farinha de mandioca
- Mel de abelhas
- Azeite de oliva
- Carne crua
- Uma travessa de barro

MODO DE FAZER:

Fazer uma salada de alface, com uma farofa d’água ou de mel. Colocar a carne crua e azeite de oliva por cima e colocar tudo numa travessa de barro.

OUTRAS COMIDAS:

- Abóbora moranga, assada na brasa com mel de abelhas.
- Aipim ou mandioca, assada na brasa com mel de abelhas.
- Ebô (canjica) com fumo de rolo desfiado e coco.
- Mingau de milho vermelho com coco e fumo de rolo.
- Milho vermelho com coco e fumo de rolo desfiado.
- Amendoim cozido na água, com mel de abelhas.

- Vinho branco, moscatel e cachaça.